Pense bem e me responda: Quantos artistas gaúchos estão indo para o vigésimo primeiro disco, venderam centenas de milhares de cópias e são não só conhecidos como reconhecidos nacionalmente? Que se saiba, talvez Elis. Certamente, Renato Borghetti. O cara toca desde os 10 anos de idade, quando ganhou sua primeira gaitinha do pai, Rodi Pedro Borghetti, na época patrão do CTG 35. Cinco anos depois, o rapazote de 15 anos já era atração turística do CTG. Com 16 anos, subia profissionalmente a um palco pela primeira vez. O palco, no caso, era de um dos tantos festivais nativistas que efervesiam no Rio Grandedos anos 80. |
E foi justamente neles que Renato primeiro fez sua fama. Tocava como um possuído, o que causava ainda maior impressão em quem conhecia as imensas limitações do seu instrumento, a gaita-ponto.
Transformando Borghetti não só num fenômeno como também no primeiro disco de ouro conseguido pela música instrumental brasileira . Relançado em CD, caminha pra outro recorde: 250 mil cópias e disco de platina. O que havia ali era uma música ainda muito tradicional - principalmente se comparada a seus lançamentos posteriores - e com uma formação também bastante careta. O diferencial estava, realmente, na paixão e no fogo que faiscava na gaita do ainda quase garoto. Foi o que viu o produtor Ayrton dos Anjos, que convenceu a RBS a lançar o trabalho pelo seu iniciante selo RBS Discos. Estava fazendo história - fato, aliás, várias vezes comum na carreira de Ayrton, o popular Patinete. A partir de então, se nunca repetiu a vendagem do primeiro disco, o prestígio e o renome de Renato só tem crescido.
Alternando trabalhos mais simples e gauchescos com momentos de maior sofisticação e acenos para o jazz e a música erudita, o sujeito tem sabido se cercar dos melhores músicos do Estado, mas sem nunca perder a rédea do que quer, e buscando sempre isso com a maior clareza. Já na década de 80, depois de perder a conta dos prêmios ganhos em festivais, deu canjas com gente como Leon Russel e Edgar Winter, arrebentou no Free Jazz Festival e fez shows em cidades que vão de Munique e Stuttgart a Maceió. Entra a década de 90 tocando no S.O.B.'s de Nova York e estabelecendo uma frutífera parceria com a Orquestra de Câmara do Teatro São Pedro, que logo geraria novos trabalhos nessa fronteira erudito-folclórica com a OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre), a Orquestra Unisinos e orquestras de todo o Brasil. Em 91, as duas primeiras mostra definitivas de reconhecimento: o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte pelo melhor disco do ano na categoria Regional e o convite para integrar o Projeto Asa Branca, com quem vai seguir fazendo shows por toda a década, ao lado de Sivuca, Dominguinhos, Elba Ramalho, Alceu Valença entre outros. Entre 95 e 96, já respeitadíssimo, toca por todo o país como representante sulista no projeto Brasil Musical, de igual para igual com gente como Paulo Moura, Hermeto Pascoal, Wagner Tiso e Egberto Gismonti.